terça-feira, 17 de maio de 2011

Hoje Cinza



Hoje Cinza

Hoje cinza como a tristeza.
Dia sem sol, sem sal e sem graça.
Um verde pálido desmaiou
Sobre a terra lá da praça. 

Folhas caídas, flores dormidas...
Foram-se as cores, foi-se a beleza.
Tudo cinza como as dores,
Triste, como a tristeza,
Como o vazio de amores. 
Sem cantiga de passarinhos,
Sem borboletas brincalhonas,
nos entremeios dos ares...
Sem abelhas rápidas, ávidas,
Em riscos irregulares. 

Hoje cinza como a saudade,
De todo o bem que ficou
Entranhado na lembrança.
Como o frio da despedida,
A tristeza da partida,
De viver pela metade. 
Dia de lenta agonia,
Sem promessas, sem apelos.
Sem vento a desalinhar cabelos
E balanços sem crianças.
Sem sorrisos, correria. 

Dia insosso, sem magia.
Um não sei quê de abandono.
Frio abandono...
Como cachorro sem dono,
Em ruas sem esperanças. 

Hoje, até as andorinhas
Se esqueceram de fazer
Revoadas pelo céu.
Ficaram quietas nos ninhos,
Esperando, como eu,
Pelo colorido rumor
De tudo que emudeceu. 

Os namorados guardaram
Tantos beijos salivados,
Desejados, demorados,
Para amanhã ou depois.
O cinza que encobre o sol
E empalidece o azul
Rouba as sombras do chão.
Esse opaco é a tristeza,
Que só sabe como é,
Quem a tem no coração. 

Cinza como a cruel leveza
Do navio que se vai,
Deslizando devagar,
Levando um grande amor,
Amargo sabor...
Sem promessa de retorno...
Nem caneta, nem papel.
Triste cinza de abandono.
Dia em que a poesia
Pede licença à alegria
Para dormir sem sonhar. 
(Dudu Pedralli)

Um comentário:

  1. Querida Poetisa,

    Lindíssimo poema!
    Retrata a alma, em um mundo
    que só a ti pertence.
    Adorei, espero ver tantos outros por aqui.
    Abraços!
    Mérci

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