terça-feira, 26 de julho de 2011

Deita



                     Deita

Deita, sobre o meu, o teu corpo,
E sublima-te, para entranhar os meus confins.
Penetra em mim tuas essências, teus suores,
Sabores, anseios, desejos e dores,
Os doces e amargos dos teus viveres.
Embrenha-te e ocupa todos os meus espaços.
Invade-me os vãos, escorre –me nos entremeios.
Confundam-se os nossos interstícios,
Nossos braços, nossos seres.
Põe meu coração a pulsar teu sangue,
Tira o sossego da minh’alma,
Invade a minha calma,
misturando tua boca na minha.


Respira meu ar, derrama, em meus olhos,
A saudade do teu olhar.
Descobre meus medos, desvenda segredos.
Viaja em mim tuas viagens,
Eleva-me ao céu, às estrelas,
Aos jardins suspensos do paraíso,
Imerso, no âmago do que sou.
Chovam, por todos os cantos, os teus prazeres.
Devorem-me teus quereres...
Aquece, mexe, incendeia, evapora e condensa.


Até, que, ao fim, sejamos um...
Em paz.
(Dudu Pedralli)
Imagens retiradas da net.

sábado, 2 de julho de 2011

Pula, Sapo


 
                   Pula, Sapo
 
Pula, sapo. Sapo Pula.
Pula alto, pula grande, pula brejo.
Lua cheia, tempo fresco,
É noite, sai a cantar.
Canta, sapo. Sapo canta.
Estufa a garganta
E se põe a coachar.
Quer namorar.
Canta alto, canta grande,
Pula pedra, pula tudo.
No alagado pula e canta.
Canta, sapo, para a  lua,
Chama a sapa prá cantar.

 Coacha aqui, coacha ali.
Vem sapo de todo lado
Num pula-pula animado,
A saparia se junta
Nas beiradas do banhado.
E proseiam mil assuntos
A coachar todos juntos,
Coisa de não se entender. 

 
A sapa vem pulandinho
E traz, pulando, o sapinho,
As pererecas se achegam,
De pulinho em pulinho,
E na prosa logo entram
A cantar alucinadas.
As sapas e as pererecas
Conversam desafinadas,
Num coachar sem igual.

Um barulho estonteante
Da sapaiada falante.
Uns pequenos, outros grandes,
Muitos verdes sem orelhas,
Mas de olhos bem vidrados,
Não na frente, mas dos lados,
Prá da vista não perder
A conversa do vizinho.
E nenhum está sozinho!

 São bichos interessantes.
Vivem na terra e na água.
Não conseguem caminhar
Mas na água, como peixes,
Nascem sabendo nadar.

 Pernas longas, calças curtas
Pula-brejo, pula longe,
Pula perto, pula muito.
Canta, sapo, até que doa.
Pula, sapo. Sapo pula.
Enche o peito, canta forte,
Lá no meio da taboa.
Pula alto, pula grande,
Pula pedra, canta alto,
Cai na água da lagoa.
Dudu Pedralli
(imagens retiradas da net)




                                   

terça-feira, 21 de junho de 2011

Aquele que ama


                 Aquele que ama

Feche os olhos
e sinta-se entre braços,
num abraço.
Envolva-se.
Respire mansamente.
Seu corpo no calor de outro corpo.
Seu amor aconchegado no amor.
Sinta o pulsar de dois corações batendo no peito...
O aroma exalado da pele,
a suavidade do toque
no caminho morno
de mãos deslizando pelas costas...
entre os seus cabelos.
Arrepie-se nos sussurros.

 
Lábios suaves encostam os seus...
sinta o sabor do beijo que ficou para sempre.
Perca-se no abraço,
Entre braços que se buscam,
Entre corpos que se querem.
Levite-se no querer.
Mergulhe no desejo.
Doe-se, infinitamente, num instante.
Atravesse o campo dos sonhos
Para viver um momento que se foi.
O amor é quentinho e macio!
Poucos são os que amam
e encontram o amor verdadeiro.
Às vezes caminham ao seu lado,
desapercebidos,
e deixam passar a felicidade
pela janela da vida,
sem viver em plenitude.
O tempo e a distância
não apagam o amor de almas. 


Aquele que ama apreende o amor,
e, de olhos fechados,
pode sentir o outro por inteiro,
como se estivesse ao seu lado...
(Dudu Pedralli)
Imagens retiradas da net.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

A Lagarta e a Borboleta

 

A Lagarta e a Borboleta

 
Não dá nem prá imaginar,
De bonita que ela é,
que tenha sido lagarta...
Tão feia, desajeitada
E muito sem graça também.

Que depois de algum tempo
Fechadinha num casulo
Tenha saído vestida
Em asas tão coloridas
Prá voar em liberdade
Enfeitando nossas vidas
E os jardins de nossas casas.

O bom é que é verdade!
Um bichinho tão pequeno,
Indefeso e sem destino
Que brinca daqui prá ali
Pousando em tudo que é flor
Levado até pelo vento...
Que bichinho inteligente!
É sabido: vive um dia,
Mas vive bem e contente!
(Dudu Pedralli)
Imagens retiradas da net.

sábado, 4 de junho de 2011

Os Arquivos da Vida

                                                                         
                         Os Arquivos da Vida

Tantas lembranças guardadas nos arquivos da vida!
Da Infância, tempo despreocupado,

                              
Já bem de tardezita,
Quando o sol se espreguiçava no fim do dia,
Pintando o céu de todas as cores,
A gurizada se juntava na rua de chão pisado
Do pequeno povoado,
Para brincar de crescer...
“Conta até 31 e vai se esconder...”
Num instante todos sumiam,
Escondidos nos mais visíveis e invisíveis lugares!
Agora é queima... pula-corda... passa-anel...
pique-31... bambolê... passa-passa-cavaleiro... 
Davam-se as mãos numa enorme roda 
e cantavam ciranda, girando, girando
e dando a meia-volta... meia-volta vamos dar...
Um ficava no meio e recitava um versinho
Que saia rapidinho da cabeça do pequeno.
Os vizinhos se achegavam na frente dos portões,
Trazendo cadeiras de palhinha, conversavam e riam,
Assistindo, com alegria, a alegria dos filhos.
Vida natural, sem vícios e sem malícia.
A educação era simples, como a comida na mesa.
Pedir a benção dos pais, agradecer o alimento e
Participar da missa aos domingos
Eram hábitos ensinados no berço.
Foi um tempo de saúde física, mental e espiritual.

A escolinha acolhia a todos nós. 
Dona Isaura, sempre cheirosa,
Dava aula do primeiro ao quarto ano...
Éramos importantes!
Todo dia a professora escolhia um ajudante:
Apagar a lousa, recolher os cadernos, buscar giz...
Os chinelinhos havaianas eram deixados na porta,
Ao entrarmos nas casas com assoalho lustrado de cera.
Regras de obediência e respeito
Eram para ser seguidas sem discussão!
Era lei!
Naquele tempo, lei tinha valor!
Eram feitas por nossos pais
E nossos pais tinham valor!


                 Da adolescência, tempo bom e complicado...
                                          



Minha geração tinha sede de descobertas.
Sonhamos muito! Sonhamos grande!
Sofremos a transição entre duas épocas:
Viemos do proibido e assistimos o liberal.
Calças boca-de-sino, roupas coloridas, bandanas.
Nossos corpos miúdos, agora arredondados.
E ficaram bonitos os meninos desengonçados!

Hormônios aflorados na pele, flertes,
Desejos de encostar “sem querer”,
roubar um beijo, conhecer o gosto...
Ah! O baile do clube! A delícia de esperar
Para dançar uma música de lajota,
De rosto colado, com alguém especial...
Adolescentes, sim, estudantes com certeza!
O colégio era o melhor lugar do mundo!
Lembrança leve e gostosa:
Irmã Jutta, nossa diretora, a maior, a melhor,
Os olhos mais azuis que meus olhos já viram.
“Cantar um Hino antes das aulas,
Subir as escadas em silêncio,
Rezar junto à carteira, ao entrar na sala”.
Era correto e foi muito bom!
Do gosto pelas ciências e artes,
Disciplina e ordem, foi grande responsável.
Imensa gratidão àquela alma boa.
Amigos para a vida, amados para sempre,
Eu trouxe do nosso colégio!
Bênçãos de Deus sobre nós,
Que estávamos no lugar certo
Na hora certa!






Adolescentes: fomos rebeldes também!
Rebeldia tratava-se com autoridade e austeridade.
Entendemos isso desde muito cedo.
Regras estabelecidas, regras obedecidas:
Estudar, debutar aos 15 anos,
Quando seria permitido namorar “em casa”,
No sofá da sala, com o pai ou o irmãozinho cuidando!
Não era fácil, mas era correto!
Correto era ser honesto!
Honestidade tinha valor!
Ninguém ficou depressivo, revoltado com a vida
Ou virou ladrão por isso!
O olhar dos pais bastava para reconhecer
A aprovação ou reprovação do ato, no ato.
Hoje avalio a constância da presença deles,
E, acima de tudo, o amor depositado em cada feito.


No tumulto da adolescência, ainda sem muita condição,
Tínhamos que decidir: o que ser “quando crescer”?
Difícil escolher entre tantas profissões possíveis.
Mas o vestibular vinha, sem tréguas, e lá íamos nós...
Professores, administradores, médicos,
Psicólogas, engenheiros...

                        Vida de adulto, tempo de tantos sabores...


Nem sempre doces e suaves;
Muitas vezes amargos, ácidos, picantes.
Cada situação exigiu diferentes misturas
De compreensão, objetividade e amor.

Encontrei o príncipe encantado...
Casamento:
Igreja, flores, vestido branco, véu e grinalda.
                                                                              “Sim”...


Estou grávida!
Barriga crescendo, corpo mudando,
Pernas pesadas, dores do parto...
MEU FILHO NASCEU!!!
E transformou minha vida...
Conheci o único amor verdadeiro:
Amor de mãe!
Somando arquivos:
Profissional, filha, esposa, mãe...
Tempos mais tarde, 
Deus presenteou-me com mais
 dois filhos para completar minha missão.
Programas novos para serem aprendidos, 
Sem manual e sem botões on-off.
Responsabilidades espalhadas nos cantos.
Trabalho sério e determinação:
Manter a ordem e a felicidade de todos,
O marido companheiro, os filhos saudáveis.
Foi a lei que aprendi e pratiquei.

O tempo passou...
Meu corpo amadureceu e marcou-me o rosto
Com rugas profundas, prateou meus cabelos,
Afinou minha pele, levou muita da minha força.
Amigos somaram-se, irmãos de outras vidas...


Meus amados avós e minha mãezinha partiram.
Fiquei tão só!
Sem a presença companheira da vida,
Sem a palavra certa na hora certa,
Sem o sorriso compreensivo e tão necessário.
Sem abraço de mãe.
Eu, esposo e filhos.
Consciência saudosa e coração apertado, porém livres.
Cumpri meu dever: se alguma vez não concordei,
Mantive o respeito e a voz inalterada,
E nunca os abandonei. Fui presente.
Cuidei da minha família com carinho,
Trabalhei com afinco e honestidade.

Tempos passados, tempos mudados!
Tempos difíceis...
Já não se brinca nas ruas
Nem se senta na calçada,
Nem se conhecem os vizinhos.
Arquivos deletados!
Gente séria prende-se em casa quando o sol vai se deitar.
E a bandidagem à solta, brincando de fazer o mau.


Deus pinta um céu diferente toda tardinha,
Mas cadê tempo para olhar?
O corre-corre moderno afastou horizontes,
Afastou familiares...
Não se tem tempo para olhar para cima.
Os homens só têm olhos para o próprio umbigo.
"Arquivus egoísticus".
Casam-se e descasam-se como trocam de roupas.
Fazem filhos e depositam nas creches.
Filhos das creches?
Pais ausentes!

 

Conceitos de retidão foram alterados drasticamente!
A lei do respeito foi abandonada
Em algum lugar do tempo.
Arquivo oculto!
Menino birrento não pode levar palmada na bunda
Educação está na cartilha do Conselho Tutelar.
Adolescentes denunciam, agridem e até matam os pais,
Quando contrariados... ou por algum tostão.
Sair da zona de conforto provoca depressão, revolta
E agressividade.
A juventude trocou liberdade por libertinagem.
Moda é usar drogas, gazear aulas e destratar professores,
andar com as calças caindo e a cueca à mostra,
como o corpo das moças “de família”.
Onde está a família?
A lei é boteco, bebida, sexo e velocidade.

Os governantes autorizaram a falar e escrever errado
“Apenas para se fazer entender”,
Porque o povo capacho merece!
Estão roubando nosso idioma...
Nossa referência, nossa dignidade!
Honestidade é brega!
Corrupção e violência passaram à normalidade
tal o grau em que são cometidas.

Amigos reais são raridade. Feliz de quem tem um!
Quando está em casa, criança assiste TV:
Desenhos animados ilustram figuras monstruosas:
Deformidade geral e irrestrita.
Incutiram o feio na cabeça da piazada.
E o feio virou moda!
Em algum lugar do tempo perdeu-se o gosto pelo belo.
Perdeu-se o gosto pelo sonho.
Onde está o arquivo dos sonhos?



O computador substituiu a presença do pai.
Companheiro silencioso, sem regras, sem leis...
Amigos virtuais, sem calor, sem afagos, sem cumplicidade.
Assim evolui a infância e juventude atual.

E os filhos tão amados e bem criados,
Pela geração da transição,
Estudam e têm profissão.
Assim que “caminham com as próprias pernas”,
Concedem-se o direito de darem as costas e
Abandonam os velhos... 
A transição ensinou que 
Velho não tem valor!

Dos sabores da vida, o abandono é o mais amargo.
O abandono dói!
Ser abandonado por um filho, é o pior dos sabores.
Não tem médico humano que cure.
É ferida da alma.
Arquivo com múltiplas cópias.

Porém, acima da lei dos homens, há a Lei de Deus.
E os dias vão de um em um...
Com eles vamos todos.
A vida é cíclica.
É lei, é justo, é correto!
Correto é ser bom!
Correto é respeitar!
Correto é estar presente
para ser um presente na vida de alguém!
Nunca uma dor.
Um dia (um dia) isso será reconhecidamente verdade.
Os arquivos de Deus são para sempre.
(Dudu Pedralli) 
Imagens retiradas da net.